O título pode sugerir uma propaganda de eletrodoméstico, mas não se engane, ele só tem sentido porque esta é uma pergunta crucial para entendermos as contingências das nossas opções e das escolhas que fazemos em nossas vidas e que repercutem diretamente nas circunstâncias em que vivemos.
Não é complicado percebermos que nossas decisões acarretam num preço, mas compreendermos esta relação de causa e efeito, bem como aceitarmos nossas contingências e os riscos que delas decorrem parece ser algo etéreo, utópico e idealista. E é para isso que serve a pergunta do título. Uma pergunta pessoal, íntima, individual: Quer pagar quanto?
Quer pagar quanto por um amor rebelde e incontrolável? Quer pagar quanto por uma vida independente e livre? Quer pagar quanto por arriscar todas suas fichas e seu dinheiro num negócio inseguro e imprevisível? Quer pagar quanto por ofender, desrespeitar e humilhar os outros? Quer pagar quanto por escolher a solidão? Quer pagar quanto para conseguir tudo que a vida oferece de bom? Quer pagar quanto por uma vida tranqüila, calma e prazerosa? As perguntas não parecem terminar, porque nossas vontades e nossos objetivos são proporcionalmente imensos se considerarmos esta relação de causa e efeito.
A idéia destas perguntas não é o próprio questionamento em si, mas sim o despertar crítico e consciente das suas respostas. Ou melhor, das nossas próprias respostas.
A compreensão e consciência da nossa realidade e das nossas circunstâncias são libertadoras porque nos revelam uma clareza, uma justeza e uma natural percepção de que nossa vida é feita de uma série de atos, escolhas e decisões que repercutem outras tantas conseqüências possíveis e infindáveis.
A tentativa e o erro (e por que não o acerto) parecem ser um bom expediente (ou instrumento) para sabermos se uma empreitada ou outra podem causar determinada conseqüência, porque aprendemos com o erro e por mais clichê que isso pareça, o fato é que o ser humano por uma série de fenômenos físicos e químicos aprende que certas tentativas geram certos resultados, alguns acertos e muitos erros também, e que em nossas estatísticas íntimas, conscientes, instintivas ou inconscientes acabamos descobrindo que agir de uma forma pode ser melhor do que outra.
Mas esse não é o foco principal da pergunta, porque ela busca a resposta que precisamos descobrir para compreendermos um pouco das nossas tristezas, das nossas decepções, das nossas frustrações e das nossas angústias, ela busca a compreensão das conseqüências da relação da causa e efeito.
Muitas das nossas opções e das nossas escolhas têm sido dificílimas porque já não nos contentamos com tão pouco. Por exemplo, já não basta um amor, precisa ser um amor completo, com o calor da paixão, a segurança da estabilidade, o prazer da alegria, a facilidade do natural e espontâneo, o entusiasmo da juventude, a emoção das tormentas, a leveza do sorriso, tem que ser um amor que nos torne pessoas melhores, não é?
E se optamos por encontrar um amor assim, nossas chances ficam cada vez menores porque as exigências que fazemos, o funil das nossas preferências e o preço das nossas conveniências têm nos trazido conseqüências caras, e a maior delas, nesse caso, parece ser a solidão.
Quer pagar quanto por tanta exigência? A solidão é um preço bem provável. A solidão do quarto silencioso, do abismo que ecoa em seu coração, da lágrima sôfrega que inunda o travesseiro, a solidão da certeza de que faríamos alguém feliz, da suplica esperançosa por nos fazerem mais felizes ainda, enfim... a solidão de quem escolhe, prefere e opta por viver um amor de verdade, custe o preço que for.E não é um preço fácil, não mesmo. A solidão que sentimos enquanto não encontramos alguém que nos desperte um amor tão completo é o preço da nossa decisão de viver um amor assim.
O primeiro passo depois da pergunta é reconhecer, aceitar e compreender que nossas opções e nossas decisões têm seus preços, que pagaremos inexoravelmente, mais cedo ou mais tarde, porque tudo é causa e toda a causa gera um efeito.
Mas não nos basta a compreensão do preço que temos que pagar por nossas escolhas, ainda assim temos a oportunidade de reconhecermos que se tomarmos decisões flexíveis, se agirmos com parcimônia, se abrirmos mão de todas as qualidades que engessamos no ideal do amor que nem encontramos ainda, se formos menos exigentes, ou menos arriscados, ou menos impetuosos, então teremos conseqüências menos custosas, e o preço a pagar não será tão alto assim.
Tudo não passa das escolhas que fazemos em nossas vidas, mas se preferimos isto ou aquilo estejamos preparados para o preço que teremos que arcar, e se estivermos conscientes e bem esclarecidos quando tivermos que pagar esse preço, então o sofrimento deve diminuir, não porque a dor e o sofrimento da perda, do erro, da tentativa frustrada ou das conseqüências não sejam difíceis, porque são (e só cada um de nós sabe como é a intensidade da nossa dor), mas principalmente porque poderemos aceitar, assumir e reconhecer que a mesma liberdade que nos permite escolher é que nos faz pagar os preços das nossas decisões.
E o melhor de tudo: conseguiremos descobrir que ser livre para escolher, para arriscar, para tentar e para acertar não tem preço que não possamos pagar!
Michel Cutait
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