Termômetro do amor

Será que é possível medir o amor? Descobrir sua intensidade, sua amplitude e seus limites? Quem não gostaria de saber e tomar consciência de quanto amor temos a oferecer, de quanto temos a receber e de quanto estamos dispostos a aceitar? Não são perguntas fáceis de responder, principalmente porque o amor não é um fenômeno físico, matemático ou quântico, mas temos alguns meios para descobrirmos aquilo que parece ser incomensurável.
Quando nos relacionamos com alguém, investimos nossos sentimentos, nossos sonhos e nossas expectativas na pessoa que amamos, mas também oferecemos nosso comprometimento, nossa dedicação e nossa atenção que, salpicados de muitas outras atitudes, retribuições e cessões, fazem nascer em nossos corações aquilo que imaginamos que seja o amor.
Mas para sabermos da medida do amor, não nos valerá a tentativa de utilizarmos o próprio amor como medida de si mesmo, porque ele é volátil, abstrato e imponderável.
A medida que poderemos nos valer para descobrirmos isso é a tolerância.
A tolerância não é a simples aptidão de aceitar ou de transigir. A tolerância é a expressão física e psicológica dos nossos limites mais íntimos, é a amplitude daquilo que somos capazes de fazer, de deixar fazer ou de ultrapassar. A tolerância é o cume, o ápice da nossa personalidade.Ninguém ultrapassa seus próprios limites, mas isso só é possível saber quando a tolerância seja vencida pela intolerância.
Então, o que é tolerável? A traição é tolerável? A deslealdade é tolerável? A ofensa é tolerável? A violência é tolerável? O desrespeito é tolerável? Depende. A tolerância varia de pessoa a pessoa, segundo uma série de valores, de sentimentos, de códigos de conduta e de comportamentos. O que é tolerável a mim pode não ser ao outro e vice-versa.
Mas, o que o amor tem com isso? A tolerância pode ser o termômetro do amor porque quem ama tolera, quem ama aceita, quem ama transige, quem ama cede, quem ama doa, quem ama perdoa, quem ama é capaz de ultrapassar até mesmo aquela série de barreiras morais e sociais que nos são apresentadas como invencíveis.
O amor tem a medida da tolerância. Sabemos de quanto amor sentimos enquanto toleramos.
Quando a tolerância passa a ser intolerância, é sinal de que o amor chegou ao fim. Não o fim do sentimento em si, mas sim o fim da quantidade que dele usufruímos e sentimos.Livres e conscientes somos capazes de afirmar que não aceitamos a traição. Às vezes é verdade, mas muitas vezes temos um amor tão grande, tão intenso e tão forte pela outra pessoa que somos capazes de sublimar e abstrair a traição porque nosso amor ainda é o suficiente para tolerar aquilo.
Quando perdoamos alguém estamos manifestando nossa tolerância e, muitas vezes sem saber, estamos atestando nosso amor.Amamos até o ponto que toleramos. Esse limite é físico e psicológico. Ninguém faz aquilo que seu corpo, verdadeiramente, não suporta fazer. Claro que estamos considerando à exceção, aquelas situações de constrangimentos físico e moral insuperáveis, porque essas não são representativas da nossa vontade. Mas, ao contrário da exceção, nosso corpo, nossas reações e nossas atitudes são as melhores, senão as únicas demonstrações daquilo que somos capazes de tolerar em nome do amor ou até mesmo em nome de outros sentimentos.
Entre um casal tantas são as experiências possíveis, mas vamos imaginar que um dos parceiros, após uma séria discussão, perdeu a razão e partiu para a violência física contra o outro. Será que um amor é capaz de tolerar uma violência? Para a maioria de nós não, mas para aqueles que amam, talvez. E isso só será possível saber se observarmos a reação e a atitude concreta daquele que sofreu a violência. Quer dizer, se ele continuar ao lado do outro ainda que sob o peso da angústia, do medo e da sujeição, mas ainda assim, manter o relacionamento, então podemos saber que a tolerância dessa pessoa ainda não alcançou o seu limite e portanto o amor ainda é capaz, pasmem, de aceitar até mesmo aquela situação de violência.
Mas não é só a violência que submete o amor aos testes da tolerância, todas as outras situações e atitudes que contrariem aquilo que consideramos como razoável e aceitável segundo os critérios morais, sociais e culturais de cada um, todas elas podem servir de exemplo.
E qual a vantagem de saber sobre o quanto de amor nós sentimos ou recebemos? A vantagem é que assim podemos ficar conscientes sobre os nossos sentimentos, podemos compreender nossas atitudes, podemos aceitar nossas decisões e podemos ficar em paz com nossa vida e com as pessoas com quem nos relacionamos, porque, enfim, conheceremos a medida do nosso amor e o que ele é capaz de realizar.

(Por Michel Cutait)

2 comentários:

Letícia Torquette disse...

Belo texto!
Claro que pode, vc constará nos meu favoritos também ;)

Michel Cutait disse...

Caro Francisco,
Muito me senti orgulhoso ao encontrar meus textos em seu blog.
Meu nome é Michel Cutait. Sou o autor desses textos, que, provavelmente, você os teve em meu blog http://lifebym.blogspot.com
Quero agradecer ao prestígio da sua citação, referência e generosidade.
Um abraço.
Michel Cutait.